Dom Henrique
Neste 25 de maio, a Igreja celebra um dos maiores papas de sua história: São Gregório VII. De batismo, chamava-se Hildebrando; era monge beneditino. Viveu no século XI, quando a Igreja estava atolada e escravizada pelo sistema feudal, refém dos grandes senhores, que nomeavam papas, bispos, abades e párocos.
Os grandes vícios a serem combatidos eram a simonia (compra de cargos eclesiásticos, vendidos pela nobreza feudal) e o nicolaísmo (a vida em concubinato por boa parte do clero). Hildebrando santo e vigoroso monge, cheio de zelo e amor pela Igreja, serviu na obra de reforma dos costumes eclesiásticos, colaborando com cinco papas: Leão IX, Vítor II, Estevão X, Nicolau II e Alexandre II. Foi eleito papa contra sua vontade, adotando o nome de Gregório VII.
Seu pontificado foi marcado pela obra vigorosa de reforma. Para conseguir seu intento, com as possibilidades que estavam ao seu alcance, centralizou enormemente o governo da Igreja, o que marcou no positivo e no negativo os séculos seguintes. Seu sincero e corajoso desejo de reforma colocou-o em choque direto contra o mais poderoso dos poderosos da época: Henrique IV, Imperador do Sacro Império Romano Germânico. O Papa excomungou o Imperador; depois, perdoou-o e, ao final, foi por ele perseguido até a morte. São comoventes as últimas palavras do santo Servo de Deus: “Amei a justiça, odiei a impiedade; por isso morro no exílio”.
Gregório VII morreu sozinho e derrotado, mas triunfou. Sua ação libertou a Igreja do poder das investiduras e preparou os séculos XII e XIII, período dos mais esplendorosos da história da Igreja. Sem fantasiar ou idealizar, pode-se dizer que o Santo Papa Gregório VII foi um dos maiores papas que a Igreja já teve, Deus seja louvado por esse grande e forte pastor!
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Eis aqui o trecho de uma comovente carta de São Gregório VII, papa desse tremendo século XI, colocado em apuros por enfrentar Henrique IV e outros inimigos da reforma da Igreja:
Rogamos com instância no Senhor Jesus, que nos remiu por sua morte, que por diligente investigação compreendais por que e de que modo sofremos tribulações e angústias da parte dos inimigos da religião cristã.
Pois desde que, por disposição divina, a Igreja-Mãe colocou no trono apostólico a mim tão indigno e, Deus é testemunha, relutante, procurei com o máximo empenho que a santa Igreja, esposa de Deus, senhora e mãe nossa, voltando à primitiva beleza, permanecesse livre, casta e católica. Mas como isto desagrada muitíssimo ao antigo inimigo, este armou contra nós, seus membros, para que tudo desse em contrário.
Por isto, contra nós, ou antes, contra a Sé Apostólica, fez tão grandes coisas, como ainda não pudera fazê-lo, desde os tempos do Imperador Constantino Magno. Não deve isto causar admiração, porque, quanto mais o tempo se aproxima, tanto mais luta para extinguir a religião cristã.
Agora, pois, irmãos meus caríssimos, ouvi com toda a atenção o que vos digo. Todos que no mundo cristão se dizem cristãos e conhecem verdadeiramente a fé cristã, sabem e crêem que São Pedro, o príncipe dos apóstolos, é o pai de todos os cristãos e o primeiro pastor depois de Cristo, e que a santa Igreja Romana é a mãe e mestra de todas as Igrejas.
Se, portanto, credes nestas coisas e as afirmais sem hesitação, rogo-vos e recomendo-vos, eu, vosso humilde irmão e indigno mestre, a que pelo Deus onipotente ajudeis e socorrais este vosso pai e esta mãe, se desejais ter por eles absolvição de todos os pecados e bênção e graça, neste mundo e no futuro.
O Deus onipotente, de quem procede todo bem, sempre ilumine vossa mente e a fecunde pelo amor por ele e pelo próximo; merecereis assim, pela resoluta dedicação, tornar este vosso pai e esta vossa mãe vossos devedores e chegar sem constrangimento a sua companhia. Amém.
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