MUNDO
Mundial 2010: chute o tráfico de pessoas!
Ir. Gabriella Bottani*
Este é o ano da Copa do Mundo de futebol. No dia 11 de junho, pela primeira vez, poderemos assistir à cerimônia de abertura no Continente Africano!
A África do Sul se prepara para acolher este grande evento esportivo com entusiasmo, mostrando o lado positivo das pesssoas e a beleza da natureza que esta terra pode oferecer. Quem chega à África do Sul pode assistir aos grandes preparativos para o excepcional evento dos mundiais: Canteiros de obras para alargar as estradas, festas de inaugurações dos estádios de futebol, slogans publicitários, souvenir, bandeiras e as indispensáveis “vuvuzelas” (cornetas dos torcedores) decoradas com as diferentes cores dos times nacionais que participarão.
Entre as várias atividades realizadas em função da Copa do Mundo de 2010, chamam a atenção as várias campanhas informativas que estão sendo realizadas na África do Sul contra o tráfico de seres humanos.
Contra o tráfico de seres humanos
De 15 a 19 de fevereiro de 2010, 19 religiosas, representantes da rede Talitha Kum – rede internacional da Vida Consagrada contra o tráfico de seres humanos –, reuniram-se em Benoni (Johannesburgo) para a realização de um workshop que tem a finalidade de organizar uma Campanha preventiva contra o tráfico de mulheres, adolescentes e crianças por ocasião do mundial de 2010.
Participaram do encontro religiosas representantes de diversas redes locais: da Europa à América Latina, do Sudeste Asiático à África. A rede internacional Sarwatip (Southern African Women Religious against Trafficking in Persons) trazia o maior número de representantes.
Estiveram presentes ao encontro a Irmã Bernadette Sangma, coordenadora da Rede Talitha Kum, Stefano Volpicelli, Resh Mehta e Marija Nikolovska, da organização internacional das migrações (OIM) de Roma e Pretória.
Durante o evento, entre os mais esperados e seguidos a nível mundial, a Campanha proposta por Talitha Kum convidará a todos, especialmente os líderes religiosos e os adeptos à vida consagrada, a informar-se, a conscientizar-se e a empenhar-se, participando da Campanha, na prevenção e tutela das vítimas desta moderna forma de escravidão.
As religiosas divulgarão a Campanha preventiva nas escolas, nas comunidades paroquiais e entre os grupos de maior risco, como os jovens e as mulheres, informando sobre o tráfico e divulgando o número telefônico gratuito para denúncias e assistência às vítimas do tráfico de seres humanos na África do Sul.
Trabalho escravo
A Campanha é dirigida também aos torcedores que estão se preparando para participarem da Copa do mundo, para que saibam e sejam conscientes de que muitos dos serviços a eles oferecidos são organizados através do serviço de pessoas que são exploradas e constritas, às vezes até mantidas em situação de escravidão. Como é o caso de Lisa, uma jovem moçambicana, a quem foi prometido serviço em um restaurante e, ao invés disso, foi trabalhar como secretária do lar sem receber nada, em condições servis e sem a permissão de sair de casa; ou de Elena, uma moça zulu, que participou de uma festa no final de uma partida de futebol. Desmaiada, acordou em lugar desconhecido e foi obrigada a prostituir-se. Ou de Peter, do Lesotto, a quem ofereceram um trabalho como operário num canteiro de obras para a construção de um estádio, mas na realidade foi trabalhar em condições miseráveis como agricultor.
O material da Campanha foi feito com uma linguagem simples e acessível a todos. Como primeira iniciativa foram escritas 4 cartas endereçadas, respectivamente, aos líderes religiosos, às potenciais vítimas, aos potenciais traficantes de pessoas e aos torcedores. As cartas valorizam as relações interpessoais e o diálogo, aspectos fundamentais do trabalho da vida religiosa na prevenção e na tutela das vítimas do tráfico.
Tráfico humano na África do Sul
A África do Sul é país de origem, de destino e de trânsito do tráfico de pessoas. A associação de mulheres sul-africanas de magistrados, durante a própria conferência, em outubro de 2007, já tinha denunciado que mulheres tailandesas, russas, búlgaras e moçambicanas são traficadas na África do Sul; as nigerianas passam pela África do Sul para depois serem vendidas na Alemanha, Itália e Canadá; as sul-africanas são levadas para Hong Kong e Macau.
Segundo estátisticas elaboradas sobre as vítimas assistidas de 2004 a janeiro de 2010 (fonte OIM – Pretória), 50% eram de origem tailandesa, cerca de 12% da República Democrática do Congo, 9,5% do Zimbabwe, 8% sul africanas, 6,5% moçambicanas e, em uma porcentagem menor, as indianas, chinesas, nigerianas, ruandesas, camaronesas, filipinas e algumas angolanas, quenianas, romenas, búlgaras, somalis, da Swazilândia, Malawi e Lesoto.
A esta voz de denúncia se une a das religiosas que participam da rede Sarwatip. Segundo as religiosas, o tráfico de pessoas na África do Sul é interno e externo, e há a preocupação pelo aumento de pessoas traficadas no período que antecede a Copa do Mundo de futebol, sobretudo nos países fronteiriços com a África do Sul, como Moçambique, Lesoto, Zimbabwe e Zâmbia, mas também distantes como a Tailândia e a Nigéria. O evento do Mundial reforça o poder atrativo da África do Sul no contexto africano; como país economicamente emergente, alimenta o sonho de melhorar a expectativa de trabalho e de vida.
Mulheres e crianças são vítimas
Segundo o Relatório 2009 da UNODC, a África do Sul é um dos países com o maior índice de criminalidade do mundo, sobretudo contra a mulher: a cada 6 horas uma mulher é assassinada pelo próprio parceiro. Na África do Sul, 4 entre 10 mulheres foram vítimas de estupro.
A maioria das pessoas traficadas são mulheres, crianças e adolescentes destinados a alimentar o mercado do sexo pago: a África do Sul é uma das metas internacionais do turismo sexual. Para tentar reduzir o risco de contrair o vírus HIV, os clientes do mercado da prostituição pedem mulheres sempre mais jovens, quando não crianças e adolescentes.
O que é o tráfico de pessoas?
O Protocolo de Palermo, no art. 3, letra a, define o tráfico de pessoas como «o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento, através da ameaça ou o recurso da força ou de outras formas de coação, através do rapto, da fraude, do engano, do abuso de autoridade ou de uma situação de vulnerabilidade, ou através da oferta ou aceitação de pagamentos ou de vantagens para obter o consenso de uma pessoa que exerce autoridade sobre uma outra, com a finalidade da exploração. Isto compreende, ao menos, a exploração da prostituição ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou os serviços forçados, a escravidão ou as práticas análogas da escravidão, da servidão ou retirada dos órgãos».
A Campanha lançada especificamente para o evento esportivo da Copa do Mundo de futebol de 2010, na África do Sul, não se considera um ponto de chegada no empenho da vida religiosa na prevenção do tráfico. É preciso continuar neste trabalho, multiplicando as forças e envolvendo o maior número de pessoas possíveis, tecendo redes velhas e novas para continuar com paixão a viver o mandamento do amor, contrastando as causas principais que favorecem o tráfico: pobreza, desocupação, discriminação de gênero, desigualdade social e um modelo econômico perverso e injusto que mira exclusivamente o lucro de poucos, sem se importar minimamente com a vida de todos.
*Rede Um Grito pela Vida - Fortaleza
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